A Filosofia para lá dos Espaços Académicos - I

Para lá das àgoras académicas, dos corredores e Gabinetes universitários existe Filosofia.
De modo algum a Filosofia é um bem particular, manejável apenas por pequenos grupos de doutos e iluminados que se passeiam por entre os raros Tomos que apenas as suas mãos podem desfolhar. Esses tais doutos e iluminados não são Filósofos. Eles são [por sua própria denominação] especialistas [de uma determinada área filosófica]. Na verdade, nada mais são do que historiadores. Mas parece-nos que esses mesmos especialistas, rebuscados e alienados do mundo ao seu redor, não conseguem compreender que o seu saber académico não é suficiente para que esse mesmo seja considerado como saber filosófico. Pois que por muitos Tomos que se engulam com orgulho e obstinação, por muitas palmadinhas nas costas se dê e se receba no seio do seu grupo elitista; por muitas dissertações, teses [entre outras coisas mais do género] sejam por si compostas e expostas diante do pequeno aglumerado de outos tantos intelectuais académicos; todas essas coisas que constituem o seu trabalho. Mas nenhuma delas é Filosofia. E porque a Filosofia aparenta não ser mais do que um bem particular que apenas à elite académica pertence, não é pois de estranhar que aqueles que não tenham um maior contacto com o pensar filosófico encolham os ombros, delirem jocosamente com aquele tipo de pensar e cheguem inclusivé a sentir alguma repulsa por ele, como se a Filosofia lhes fosse mais fácil de atacar do que entender.
Não negamos [e defendemos] a necessidade de descansar os olhos por sobre as Obras e partir daí para a póstuma reflexão. Mas isso apenas não é suficiente. Tão pouco será suficiente para aqueles primeiros serem doutos conhecedores deste ou daquele filósofo em particular, de dois ou mesmo três [se, hoje em dia, tal for possível].
Ademais, não aprenderás Filosofia nas academias nem nas universidades, por mais retrógadas e conservadoras ou mesmo modernos e transformadores que esses espaços sejam. Por mais reconhecidos sejam os teus Mestres, eles o serão devido ao seu conhecimento particular, mas verás como lhes faltará o bom-senso e a percepção dos seus próprios limites mundanos. E é aí, na mundanidade, na simplicidade do dia-a-dia, no bom-senso e na inteligência do viver que a Filosofia reside, subsiste e permanece viva.
Dentro das muralhas académicas, o que é a Filosofia mais do que um relicário, uma peça de museu? E enquanto esses doutos e iluminados professam o seu saber histórico vão mantendo-a emprisionada como se fosse a Filosofia um ser de uma mui grave fragilidade.
É essência da Filosofia, esta estar a todos disponível e tornar-se parte fundamental do pensamento mundano. É o fim próprio da Filosofia ela tornar-se Senso-Comum e ir para lá dele. Mas isso não é possivel enquanto a mantêm amordaçada sob a curta rédea do entender pseudo-intelectual elitista, alí, dentro dos espaços académicos, porque o seu meio natural é o seio da multidão gentia, por mais ignota que esta seja; pois que a ignorância é o primeiro passo para o saber e o saber o segundo para a humildade [de não poder saber tudo].